Mortes no trânsito: “é inaceitável ficar de braços cruzados ante a este escândalo”
“As mortes no trânsito brasileiro são um escândalo. E mais escandaloso ainda é nos acostumarmos com este escândalo. Nossa situação é caótica e nós precisamos enfrentar esta realidade. É inaceitável que a gente continue de braços cruzados de frente a este escândalo.” A afirmação é do professor David Duarte, da Universidade de Brasília (UnB), presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito, ao concluir sua palestra no 44º Encontro Nacional de Detrans (END), nesta quarta-feira, 19, em Brasília.
O professor David Duarte traçou uma comparação entre o trânsito no Brasil e na Europa, especial um paralelo entre as ações para a mudança da cruel realidade das milhares e mortes e os milhões de feridos anualmente. “No Brasil são 50 mil de mortos e um milhão de feridos, conforme dados de 2013. Nos últimos 30 anos foram um milhão de mortos. O custo anual com despesas hospitalares, seguros e previdência social para as vítimas de trânsito soma R$ 50 bilhões”, descreveu Duarte.
Na comparação entre a situação brasileira com a européia, o professor David Duarte mencionou dois exemplos. Um deles é o da Espanha, onde em 10 anos reduziu de 10 mil mortos para 1.800, com 17 milhões de veículos a mais no período. O outro é o da Bélgica: em 2013 aquele país teve o menor número de mortos no trânsito desde 1950, com uma frota dez vezes maior que 64 anos atrás.
Ao analisar os números pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito, o professor Duarte revela que a mortalidade de motociclistas no Brasil continua tendo um avanço assustador e “por mais que queiramos negar, o poder publico não tem feito praticamente nada para resolver o problema”. Somente em 2013, agregou ele, ocorreram 372 mil indenizações para invalidez permanente, a maioria de motociclistas.
O grande aumento de motos em circulação é uma das causas dessa tragédia. Em 10 anos a quantidade de carros no Brasil aumentou de 24,5 milhões para 50, 2 milhões, ou seja, duplicou. Mas a de motos pulou de 4,5 milhões para 19,9 milhões, que dizer, mais de quatro vezes. A outra razão é a imprudência e a má formação dos condutores.
O professor Duarte, no entanto, apontou um dado que mostra que a política do governo nesta última década vem contribuindo significativamente para ampliar a tragédia. Enquanto o reajuste dos preços das passagens de ônibus e de metrô tiveram aumentos acima da inflação no período, o de carros novos, motocicletas e carros usados tiveram reajustes bem abaixo dos índices inflacionários.
Os números dos reajustes são: inflação dos últimos 10 anos, 82,9%; reajustes das passagens de ônibus, 111,1%; de metrôs, 94%; de carros novos, 6,3%; de motos, 4,3%; e de carro usado, -19,5%. Ou seja, o custo do carro usado teve reajustes negativo, perdendo valor devido à facilidade de comprar carro novo por conta dos incentivos de redução do IPI e facilitação de crédito.
Por fim, o professor traçou a necessidade de romper alguns desafios para conter a violência no trânsito, com investimentos em infraestrutura, legislação e fiscalização, formação do condutor (“grande parte das mortes no Brasil é por má formação do condutor”), melhoria da qualidade da fiscalização (“a fiscalização no Brasil é rudimentar”), e melhoria na formação dos formadores de condutores. “Os instrutores das auto-escolas são muito ruins. Tem gente que não sabe o nem be-a-bá e vão ensinar os outros. Isto é assustador”, finalizou ele.
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